Base de “vinho químico” apreendida em São Paulo
A polícia de São Paulo diz ainda não saber a real composição do “vinho químico”. A corporação analisa como é fabricada a bebida irregular, apreendida em eventos como a Virada Cultural. A substância é investigada desde 2009, quando começaram a ser realizadas grandes apreensões na cidade.
Considerada algo ainda “muito novo no mercado do crime”, não é possível saber ao certo quais os elementos que formam a bebida, segundo o delegado assistente da 2ª Delegacia de Saúde Pública, Paulo Alberto Mendes Pereira. As análises iniciais indicam que a base do vinho químico varia de álcool combustível ao de cozinha.
— O que vai determinar o que tem neste vinho químico são perícias. Nós mandamos amostras para exame e teremos resultado em 30 dias.
A comercialização chamou a atenção das autoridades paulistanas pela primeira vez na Virada Cultura de 2009. Segundo a Secretaria de Segurança Urbana, foi nesse evento que uma séria de pessoas procuraram os serviços de saúde após passarem mal por ingerir a bebida irregular. Desde então, a Prefeitura de São Paulo tem intensificado a fiscalização da venda da bebida.
De acordo com o delegado, quando a bebida começou a chamar a atenção das autoridade, a polícia criou um serviço de inteligência para cuidar desse assunto. Na Virada de 2012, que ocorreu entre os dias 5 e 6 de maio, foi primeira vez que a Polícia Civil fez uma operação específica para apreender este tipo de bebida.
— Participaram da operação 40 policiais . Foram detidas 19 pessoas com esses produtos, além de 2.128 bisnagas de vinho químico [saquinhos com 60 mml]. Apreendemos também 133 litros de bebidas falsificadas e algumas batidas coloridas com cheiro de álcool muito forte.
Segundo a secretaria, em três anos, foram apreendidos cerca de 45,2 mil litros do vinho químico na cidade, sendo que a maior parte das apreensões ocorreu em 2011, quando 22 mil litros da bebida foram recolhidos. A prefeitura afirma que o produto é vendido não só na Virada Cultural, mas também na Parada Gay e outros grandes eventos de rua como o Ano Novo na Paulista.
A fiscalização do comércio de bebidas irregulares é feita por agentes das subprefeituras, da Guarda Civil Metropolitana e da Polícia Militar, por meio da Operação Delegada.
Embora a polícia ainda não tenha determinado qual é exatamente a base alcoólica da bebida, a secretaria diz que o vinho é feito, basicamente, de álcool, groselha, adoçante e corante. Por causa da alta concentração de álcool (mais de 90%), ele é um perigo à saúde, podendo até causar convulsões.
O psiquiatra e coordenador do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Thiago Fidalgo, confirma que o grande problema do vinho químico é o teor alcoólico.
— Esses vinhos químicos são álcool puro, por isso, os efeitos que eles provocam no corpo ficam muito mais potencializados. Além da ressaca bruta, a pessoa pode ter um dano hepático devastador e uma cirrose intensa e aguda.
De acordo com o médico, até dois dias depois de ingerir a bebida, a pessoa pode apresentar vômitos, diarreias, febre alta e até morrer. Não é possível prever a quantidade de ingestão que provoca esses sintomas porque a forma e as substâncias usadas na composição da bebida podem variar.
— O problema de você ter um problema no fígado [sic] é que as toxinas do corpo ficam acumuladas. O corpo não dá conta de destruir essas toxinas.
Na dia 7 de maio, a Prefeitura de São Paulo atribuiu a diminuição na venda de bebida irregular e vinho químico na 8º edição da Virada Cultural (em comparação com o ano anterior) à fiscalização e conscientização da população.
De acordo com o balanço parcial, durante o evento deste ano, foram apreendidos pouco mais de 7.000 litros de bebida irregular – dos quais 1.500 litros eram de vinho químico. Em 2011, foram apreendidos 23 mil litros – dos quais 18 mil, de vinho químico. Segundo o prefeito Gilberto Kassab “a fiscalização eficiente, conscientização da população e o trabalho da imprensa” foram os responsáveis pela redução.