Sobre a Nova Zelândia
Produção em larga escala na Nova Zelândia só começou na década de 1970
As altas temperaturas de nosso verão despertam nos enófilos o desejo de beber vinhos frutados e de boa acidez, de preferência brancos, para refrescar e acompanhar pratos mais leves. Nessas circunstâncias, os vinhos neozelandeses são um dos primeiros a serem lembrados.
A Nova Zelândia é a região produtora mais isolada do planeta, um conjunto de ilhas a cerca de 1600 km da já distante Austrália. Embora sua produção não seja muito expressiva, a qualidade alcançada por seus vinhos em um curto espaço de tempo lhe valeu merecido destaque no cenário mundial.
Não existe região vinícola que produza vinhos num território tão austral quanto a Nova Zelândia. Sua zona produtora localiza-se entre os paralelos 35° e 44° de latitude sul, correspondendo, em termos europeus, ao sul da Espanha e à Côte-du-Rhône. Entretanto, seu clima é bem mais frio do que o destas regiões do Velho Mundo, pois, embora as latitudes sejam as mesmas, a falta de massa continental ao seu redor faz com que suas temperaturas sejam consideravelmente mais baixas, o que garante uma vocação bastante diversa quanto às castas de uvas ali plantadas e o estilo de seus vinhos.
Sua história vitivinícola é bem recente, pelo menos a de boa qualidade, uma vez que a elaboração de vinhos a partir da vitis vinifera em larga escala só se iniciou em 1970. Já nos anos 80, seus Sauvignon Blancs e Chardonnays começaram a ter reconhecimento internacional.
Os primeiros vinhedos foram plantados em 1840 em Kerikeri, Bay of Island, Ilha do Norte, pelo missionário anglicano Samuel Mardsen. Entretanto, os primeiros vinhos só começaram a ser produzidos 20 anos mais tarde, como confirma o depoimento do explorador francês Dumont d'Urville, que nos fala no livro "The Wines and Vineyards of New Zealand", de "uma latada (treliça) em que floresciam várias parreiras...com grande prazer pude provar o produto do vinhedo que acabara de ver. Fui servido de um leve vinho branco, muito espumante, e delicioso ao paladar, que apreciei imensamente." Como se vê, já se prenunciava a grande vocação da região para os refrescantes vinhos brancos.
Alguns fatos, no entanto, conspiraram para a que viticultura não prosperasse de forma desejável. Em primeiro lugar, a população de origem era predominantemente inglesa, mais voltada para o consumo da cerveja, embora a elite apreciasse o vinho. Mas, neste caso, o fermentado tinha que ser um Bordeaux, um Jerez ou um Porto europeu.
Depois, a fundação da New Zealand Temperance Society, em 1836, que pregava a proibição de toda bebida alcoólica, da mesma forma como viria ocorrer no século seguinte nos Estados Unidos. Seu poder foi muito grande entre os anos 1881 e 1918, vindo a frustrar os esforços do governador viticulturista Romeo Bragato, que muito fez pela melhoria da qualidade do vinho neozelandês entre os anos 1895 e 1909.
A isso tudo deve-se somar as sequelas da praga da filoxera, que também atingiu estas ilhas distantes por volta de 1895. As consequências foram desastrosas, pois, ao invés de seguirem o exemplo europeu de plantar espécies de vitis vinifera enxertadas em "cavalos" de espécies americanas, optaram por plantar pura e simplesmente castas americanas híbridas, resistentes à praga, mas que dão origem a vinhos de baixíssima qualidade. Assim, em 1960, a uva Isabella, conhecida na região por Albany Surprise, era a mais plantada no país.
Com altos e baixos, chega-se aos anos 70, o interesse pelo vinho cresce e tem início uma importante revolução de qualidade no país. O estilo dos Sauvignon Blancs, Chardonnays e Pinot Noir neozelandeses começam a marcar presença. Nos nossos dias, o prestígio do país como produtor de vinhos de alta qualidade já está consolidado.